Fim de ciclo


Sempre foste de intensas chegadas e de imensas partidas.
Sempre consenti. E quem não consente? Quando o coração sente...
Agora sou eu quem parto e fecho a porta.

O diário da tua ausência




Há coisas que podiam ter um início, um meio, mas não um fim.
Com início, com meio e com fim.

E o silêncio faz-me companhia





Espartilhas-me a alma cada vez que te refugias nesse silêncio de escombros.

E lá fora a chuva cai


Horas de luz reduzidas nos dias em que a precariedade dos raios de sol nos visita à mercê de ordens superiores. O nevoeiro mantém-se presente na tez acinzentada que não muda de posição, assim como a escassez de palavras que gosto de degustar, se tornaram retidas em muros inacessíveis. Tal guarda-chuva, por vezes ficasse impenetrável, impermeável, indiferente ao mundo ao nosso redor. Será capacidade inata de alguns? Incapacidade nata de outros? Eu diria, regendo-me por teorias sem bases científicas assentes, lei de evitamento,  de esquecimento, um qualquer cimento no orgão responsável pelas batidas vitais. Capacidade de uns, incapacidade de outros. Assim decorre a vida e já tinha idade, talvez até maturidade para aceitar que cheguei tarde ou até mesmo, sendo mais certeira, não cheguei. Com um nó na garganta, incapaz de vociferar um ruído que seja, limito-me ao silêncio. E continuo a saltar entre pinga e pinga, tentando tornar este coração penetrável, permeável e diferente, semelhante a um guarda-chuva. Valha-me ao menos a teoria, de que tudo tem prazo de validade, um guarda-chuva não dura para sempre e um coração também não. E lá fora a chuva cai.

Do teu gesto no meu


"Com um dedo, toco a borda da tua boca, desenhando-a como se saísse da minha mão, como se a tua boca se entreabrisse pela primeira vez, e basta-me fechar os olhos para tudo desfazer e começar de novo, faço nascer outra vez a boca que desejo, a boca que a minha mão define e desenha na tua cara, uma boca escolhida entre todas as bocas, escolhida por mim com soberana liberdade para desenhá-la com a minha mão na tua cara e que, por um acaso que não procuro compreender, coincide exactamente com a tua boca, que sorri por baixo da que a minha mão te desenha. Olhas-me, de perto me olhas, cada vez mais de perto, e então brincamos aos ciclopes, olhando-nos cada vez mais de perto. Os olhos agigantam-se, aproximam-se entre si, sobrepõem-se, e os ciclopes olham-se, respirando confundidos, as bocas encontram-se e lutam sem vontade, mordendo-se com os lábios, quase não apoiando a língua nos dentes, brincando nos seus espaços onde um ar pesado vai e vem com um perfume velho e um silêncio. Então as minhas mãos tentam fundir-se no teu cabelo, acariciar lentamente as profundezas do teu cabelo enquanto nos beijamos como se tivéssemos a boca cheia de flores ou de peixes, de movimentos vivos, de uma fragrância obscura. E se nos mordemos a dor é doce, e se nos afogamos num breve e terrível absorver simultâneo do fôlego, essa morte instantânea é bela. E há apenas uma saliva e apenas um sabor a fruta madura, e eu sinto-te tremer em mim como a lua na água."
 
Julio Cortázar

A viagem da vida

 
"Porque no início é tudo tão fácil? Porque é novidade...
   Porque depois se transforma? Porque não fertilizamos e não definimos um caminho... com ou sem  compromisso!
Porque uma pilha sozinha não pode funcionar e precisa de troca de energia; ou pode uma dar tudo à outra? Assim perde toda a energia...
Porque não funcionam então as relações? Porque permitimos aos nossos medos projectarem-se e depois da fase inicial vem o medo...medo do compromisso...medo do outro não ser fiel...medo de tudo acabar...de nos magoar!
A solução é sempre ter vontade de viver. Receber, mas também dar. Partilhar. Falar muito. Passear muito. Ceder, mas também saber não ceder. Mas acima de tudo aceitar o outro na nossa vida e acompanhar.
Porque só é bom se formos bons companheiros de viagem. A viagem da vida.
Obrigado por me ensinares a respirar..."

Manuel Ribeiro


Obrigada



Há momentos em que nos sentimos pequenos no universo, como o grão de areia da praia, mas nesses momentos, por vezes, somos amados imensuravelmente e esse valor já ninguém mo pode tirar.