Vestida de Outono


E lá está ela, exposta a um novo desafio, inicialmente as brisas que bailam com ela, depois as ventanias e por fim as tempestades, desnudam-na cruelmente e colocam-lhe a alma a nu e os seus braços pesarosos, lânguidos na imensidão da frieza da chuva e da gelidez do frio, esmorecem, quase, quase que morrem.
Enfraquecidos libertam as suas folhas, que vagueiam e atapetam o solo em tons pastel, acastanhados, alaranjados, avermelhados, intensas cores fumegantes que exalam odores, libertam calores e salpicam a estação de sons, camuflados nas metamorfoses impostas.
E sozinha faz frente à solidão que a noite trás, às ameaças e às desilusões, de ver o seu corpo despido exposto cruamente ao mundo. Mas a força está no seu eu, na seiva que lhe corre nas veias, e alimentando-se das suas próprias cinzas, rejuvenesce, serenamente na acalmia desejada, reergue os seus braços definhados e faz brotar um novo recomeço, aguardando que timidamente germine e floresça, lentamente toda a vida que há em si.

Somos por vezes dissipados, dissecados, dilacerados, quase, quase até à morte, mas temos a posse de ressuscitar e fazer sempre um novo amanhã, sempre.

1 comentário:

  1. Gostei imenso de conhecer o seu espaço. A sua prosa é deliciosa. Palavras musicalmente cheias de sensibilidade que culminam numa reflexão que me agrada "Sempre".

    E... belo acompanhamento musical!

    Parabéns!Voltarei!
    Beijinhos

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