Metade


Tenho a alma rasgada, dividida, partida ao meio. Sou metade alegre, metade triste. Na metade alegre, conservo o sorriso cativante, o olhar radioso, com o qual saúdo cada novo dia, estendo-lhe a minha mão e abraço-o com carinho. Damos gargalhadas juntos, conversamos até ao desgaste das palavras, partilhamos segredos e também os silêncios. Encaramos cada desafio como uma nova etapa a transpor e não deitamos os sonhos por terra, semeamos a semente, aconchegamo-la com ternura e esperamos juntos que germine. Envolvidos num só, aguardamos pela penumbra e desfrutamos de mais uma noite pela frente. Mas aí, surge a metade triste, aquela que descobre a alma, despe-a devagarinho, lentamente e gelidamente. E na noite sombria, vagueia nas avenidas desertas, nas quais os olhares e sorrisos, já não se encontram, pois estão perdidos um do outro. Caminham sozinhos, tristes e moribundos, fingem que está tudo bem, e acreditam que as distâncias se encurtam, ao aguardar pelo amanhecer onde o raiar do novo dia, lhes trará de novo a esperança. Estou metade triste, metade alegre. Anseio por uma alma inteira, em que as metades perfazem um todo. E é, um todo que quero junto a mim.

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