E tropeço na luz


É Março ou Abril?
É um dia de sol
perto do mar,
é um dia
em que todo o meu sangue
é orvalho e carícia.

De que cor te vestiste?
De madrugada ou limão?
Que nuvens olhas, ou colinas
altas,
enquanto afastas o rosto
das palavras que escrevo
de pé, exigindo
o teu amor?

É um dia de Maio?
É um dia em que tropeço
no ar
à procura do azul dos teus olhos,
em que a tua voz
dentro de mim pergunta,
insiste:
Se te fué la melancolia,
amigo mío del alma?

É Junho? É Setembro?
É um dia
em que estou carregado de ti
ou de frutos,
e tropeço na luz, como um cego,
a procurar-te.

Eugénio de Andrade

2 comentários:

  1. Profundamente belo!
    "...e tropeço na luz, como um cego,
    a procurar-te."
    Que versos iluminados em (Eu)génio de Andrade!

    Beijinhos

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  2. Sensacional ... a harmonia da natureza na harmonia bela num poema excelso ... ao mesmo tempo que realça a harmonia em contrastes... Lindo mesmo ... :)))) adorei simplesmente ...

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