No desequilíbrio dos mares


"No desequilíbrio dos mares,
as proas giram sozinhas...
Numa das naves que afundaram
é que certamente tu vinhas.
Eu te esperei todos os séculos
sem desespero e sem desgosto,
e morri de infinitas mortes
guardando sempre o mesmo rosto.
Quando as ondas te carregaram
meu olhos, entre águas e areias,
cegaram como os das estátuas,
a tudo quanto existe alheias.
Minhas mãos pararam sobre o ar
e endureceram junto ao vento,
e perderam a cor que tinham
e a lembrança do movimento.
E o sorriso que eu te levava
desprendeu-se e caiu de mim:
e só talvez ele ainda viva
dentro destas águas sem fim."

Cecília Meireles

2 comentários:

  1. Tão lindo!
    A sedução do mar que pode engolir ou ofertar sonhos e devaneios... Pureza, desejo de infinito...

    Um 2011 pleno de realizações.

    Um beijo

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  2. Lindo poema!!!
    Que melodia tocada no piano!!! Gosto muito!

    Que cada dia de 2011 se vista de sorrisos, alegrias, esperança...

    E que sejamos felizes!

    Feliz Ano Novo!

    Beijinho

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