Vista do cume das montanhas


Carreiros de terra batida de formigas em azáfama contínua
entre silvados de amoras campestres e dedaleiras ao sol
as abelhas zumbem em busca de alimento
flores fartas acolhem-nas como casa temporária
trajectos de ventoinhas sopradas pelo vento
as sombras irrompem entre a caruma dos pinheiros
mansos passos sobre musgo de presépio
onde o silêncio acasala com a noite.
Ao fundo o rio nas escarpas enrola sobre as fragas
serenamente borda e costura as margens de frescura
a nascente a crescente tece murmúrios de voo
entre asas de libélulas de efémeras distâncias
corpos perdidos no esconde-esconde da natureza
olhares estreitos reflectidos na lucidez das águas
que em enlace de ondas descobrem a ternura em sorrisos
dedos imersos tacteiam o chão dos sentidos
de pés desnudos em estradas tantas por caminhar
imersos na concordância abraçam-se e circundam as almas em teias de mel
tal aranhas que rodeiam a presa em cruzadas mãos em ombros de sonhos
bailados em ritmos estonteantes que percorrem
caminhos de cabras selvagens onde o verde dos prados
lhes saciam a gula reinante tal flauta de pastor
que sibila em acordes rasgando o silêncio presente.
Eis-nos vacilantes nos sentidos, eis-nos confusos
na encruzilhada entre a paragem sobre quebrantes de luz e o cantar dos grilos
palmilhamos cada pedaço de terra para nos encontrar.
Encontraste-me. Encontrei-te. Perdi-te. Perdeste-me.

2 comentários:

  1. Tenho para mim que, no topo de uma montanha, a clareza e a lucidez têm tendência a fazer-nos companhia, pois o tempo adquire a sua verdadeira dimensão.
    O título do texto, ao remeter-nos para as alturas, prepara-nos para algum tipo de constatação. E ela surge, naturalmente...

    Beijo :)

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