No teu deserto, o meu mar


A noite tinha descido e a chuva moliquenta veio visitar-me juntamente contigo
num lago ao lusco-fusco e um néon que incendiava o olhar
na margem o gato escapulia-se onde os peixinhos vermelhos adormeciam aos pares
entre risos, sorrisos mágicos e olhares tantos, as palavras corriam a sair das bocas
cumplicidade, intimidade, um à vontade entranhado.
E de novo o espaço fechado a bailar paredes
a química do abraço, a necessidade do toque
o sentir dos corpos, o desconserto consertado da ausência
marcado pela nudez num vai e vem limitado
mas intenso que aflora e nutre o ventre seco desde o passar do tempo.
Seria a dança do amor, seria
seria o desabrochar dos corpos famintos
seria o caminho a seguir, seria.
Se não houvesse o medo
se não houvesse a incerteza certeza
se não houvesse o passado
certeiro a humedecer o olhar,
a silenciar as palavras,
a evitar um doce caminhar.
E de novo o silêncio
as mesmas desculpas,
as mesmas culpas.
E de novo o erro
o mesmo erro certeiro e por inteiro.
E de novo o deserto, manifesto.

4 comentários:

  1. É assim mesmo que acontece. Esse final aí, parece nunca mudar. E de novo as sombras do passado...
    Parabéns!
    Belo!!

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  2. ADOREI.
    Obrigada pelo comentário.
    Um Beijinho

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  3. Há poesia no mar, no lugar de maresia. Há sentidos e sentimentos. É preciso atravessar o mar, a ponte... E do outro lado, oposto à margem, qualquer que seja ela, descobrir que o medo é só um detalhe, insignificante.

    ¬
    Palavras/versos de uma leitura deliciosa, Sempre.

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  4. O título é logo a primeira delícia...

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