A natureza reinventa-te


"O teu rosto escorre em pequenas gotas de água
no vidro por onde observo a escuridão do mundo
Refazes-te num lento puzzle sobre o vagar
...que indolentemente conduzo
pelo pára-brisas das alagadas ruas da cidade
As luzes dos carros adiante refractam-se em desfocados arco-íris
multiplicando a tua imagem numa serie de fotogramas
criações de uma mecânica quântica tão valorosas
quanto a minha memória que se dilui com o avanço do tempo
A natureza reinventa-te, uma preciosidade oferecida
aos humanos, em sombras fugazes que se prendem ao olhar

tão reais que me absorvem
no vislumbre fora do quotidiano
O passado materializa-se sintetizado em pequenas gotas
Escorrem à minha frente vagas recordações

corpos que se fundem
com o negro da noite onde agora habito
e conduzindo deixo para trás luzes que se apagam
à minha lenta passagem
És apenas um vestígio arqueológico um distúrbio nas sinapses
um acaso de gotas que se fundem
um momento que impulsiona ainda mais a minha solidão
És à minha frente vestida de humidade e reminiscência
e por mais que siga e por mais que corra
por mais semáforos verdes que passe
a distância que me separa da tua imagem
não se altera, nunca."


José Bernardes

1 comentário:

  1. Apenas um reflexo, uma imagem... se fiel, ou não... uma imagem.

    ¬
    Boa semana, Sempre.

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