Naufrágio lento


O outono recusa vestir as vestes
perante um verão que não se quer despedir
são assim os adeuses
vagarosos interrompidos inacabados
em estacas com barcos à proa
num cais à beira do abandono
onde lançam a âncora e balançam na míngua das águas
entre lodo movediço soltam amarras e vagueiam perdidos
na desolação da paisagem
olhares imersos no tempo
na escassez de peixe a apanhar
moribundos nos dias
resistem ao perpassar das estações
e aflitos esperam que no trinar da gaivota
todos os sonhos se possam concretizar
iça-me a bóia para que me seja um naufrágio lento.

4 comentários:

  1. Minha querida

    Um belo poema como sempre...há sempre no Outono uma eterna nostalgia.

    Deixo um beijinho com carinho
    Sonhadora

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  2. Assistir um barco partindo sempre me faz ter duas sensações distintas: a do adeus, que é evidente, mas que traz em si a promessa de uma nova chegada em algum outro cais...
    Um belo texto. Quanto ao naufrágio, um dia ele virá para todos nós.
    Gostei de seu blog e do seu jeito de dizer as coisas. Convido-a para conhecer o meu.
    Beijokas.
    Seguindo...

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  3. um poema com cheiro de nostalgia.

    acho que o outono é isso mesmo.

    um beij

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  4. O Outono a minha estação de eleição, ainda que todas as outras tenham a sua beleza, o Outono tem uma magia muito característica, muito sua...
    Pode "provocar" alguma "nostalgia", mas essa acima de tudo vive dentro de nós...

    Um belíssimo poema, como sempre nos brindas :)

    Bjnhs

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