Oculto-me em lágrimas

"Se me ponho a cismar em outras eras
Em que rí e cantei, em que era querida,
Parece-me que foi outras esferas,
Parece-me que foi numa outra vida...
E a minha triste boca dolorida
Que dantes tinha o rir das primaveras,
Esbate as linhas graves e severas
E cai num abandono de esquecida!
E fico, pensativa, olhando o vago...
Toma a brandura plácida dum lago
O meu rosto de monja de marfim...
E as lágrimas que choro, branca e calma,
Ninguém as vê brotar dentro da alma!
Ninguém as vê cair dentro de mim!"

Florbela Espanca

2 comentários:

  1. Triste mas sempre tão bela, ou bela mas sempre tão triste...

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  2. (...) "E as lágrimas que choro, branca e calma,
    Ninguém as vê brotar dentro da alma!
    Ninguém as vê cair dentro de mim!"

    Às vezes é mesmo assim...

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