A sonhar



 Os traços delineiam-se no crepúsculo
anoitece vagarosamente
no ar um odor a giestas em flor
as nuvens formam cordeirinhos e agrupam-se para dormir
as cegonhas retornam aos ninhos
riscando o céu de alamedas de sonhos
os grilos cantantes retinam no silêncio
a paz rende-se ao pranto dos campos
onde o orvalho começa a fazer casa
aves famintas gemem em volta da presa
sentada debaixo da oliveira
as folhas acariciadas pelo vento
tilintam-me ao ouvido.
Confundem-me os sons nocturnos
confunde-me o som das palavras
estico e estendo a minha mão e quase (te) consigo tocar
é curto o espaço entre mim (ti) e o céu
este paraíso inebria-me os sentidos
num (re)pouso rendido
sinto-me (te) a levitar
uma aura de serenidade assola-me (te) a alma
abro os meus braços
 quero sentir-(te) (me)
o que parece perto, torna-se tão longe
o longe é aqui tão perto
a escassos milímetros de um toque
está o silêncio, esse
ao qual me rendo
ao qual me entrego
ao qual quero conquistar.

3 comentários:

  1. Sublime Momento ...

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  2. Os maravilhosos detalhes fazem com que sinta esse lugar espantoso.
    Muito doce e ternurento este momento aqui deixado.

    Beijinho

    Vieira MCM

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  3. Lindo poema, cheio de sensibilidade e detalhes profundo. Adorei! Um abraço!

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